segunda-feira, 29 de março de 2010

No Rio, inclusão é decisão dos pais

Política educacional coloca crianças com deficiência em escola regular após consulta à família; antes, elas eram avaliadas pela prefeitura


Clarissa Thomé - O Estadao de S.Paulo

José Renan Macedo Almeida, de 11 anos, tem deficiência física em decorrência de paralisia cerebral. Até 2009, estudava em classe especial, sem divisão por série. Desde fevereiro, cursa o 4.º ano do ensino fundamental em uma turma regular da Escola Municipal Dídia Machado Fortes, na Barra da Tijuca, no Rio.

O conteúdo que aprende é o mesmo dos outros colegas. Ele participa das aulas de educação física - faz atletismo -, aprende percussão (ou "aula de tambor", conforme explica). Dribla as dificuldades de coordenação motora fazendo os exercícios em um laptop, que o pai, porteiro, ganhou. Na sexta-feira, sua tarefa era uma redação sobre aquecimento global. Atualmente, diz que quer ser bombeiro.

O que mudou foi a política de inclusão do município. Antes, os alunos com deficiência eram avaliados e selecionados pela Secretaria de Educação. Alguns eram considerados aptos à inclusão e iam para as escolas regulares. Outros eram encaminhados para classes ou escolas especiais.

A ideia era que as classes especiais fossem temporárias, onde as crianças seriam preparadas para a inclusão. Mas, às vezes, ficavam ali tanto tempo que, crescidas, não podiam ser encaminhadas para as primeiras séries do ensino fundamental. O sistema tinha ainda brechas - por erros de avaliação, houve casos de crianças hiperativas que foram parar nas turmas para deficientes. Hoje, a secretaria não diz quem pode ou não ser incluído. A escolha cabe aos pais.

"Todas as crianças têm ganhos. Elas aprendem com as diferenças, crescem com menos preconceitos. Os alunos sem deficiência entendem que ser diferente é normal e aprendem a lidar melhor com as próprias dificuldades. A criança com deficiência cresce com pessoas que pertencem à sua geração e aprendem de acordo com suas possibilidades, sem que ninguém imponha limites", defende Cláudia Grabois, diretora do Instituto Helena Antipoff, órgão que coordena a educação especial.

Acompanhamento. Para facilitar a inclusão de alunos com dificuldades de locomoção, deficiência intelectual ou transtorno global do desenvolvimento (autismo), foram contratadas 300 estagiárias de Pedagogia, que acompanham os alunos individualmente. Também chegam à rede, em abril, 270 intérpretes e instrutores da Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Até então, alunos surdos tentavam fazer a leitura labial dos professores. A prefeitura está finalizando a compra de 500 laptops para cegos e alunos com paralisia cerebral.

O Ministério da Educação está enviando 300 kits para equipar as salas de recursos, onde os estudantes desenvolvem suas especificidades para facilitar o aprendizado - o aluno surdo aprende libras; o cego, braile; alunos com deficiência intelectual trabalham raciocínio lógico.

"Integração não é inclusão. Na integração, a criança se adapta à escola. Na inclusão, a escola se adapta às necessidades dos seus alunos. Mas isso tem de ser feito com qualidade e precisa de investimentos", diz Cláudia.

Para facilitar o trabalho dos docentes e tirar as dúvidas foi criado o Disque-IHA. Professores de educação especial se tornaram itinerantes e orientam os colegas e o desenvolvimento de materiais didáticos específicos.

Cláudia costuma ouvir a mesma pergunta de pais e profissionais - e aquele aluno que o professor sabe que não vai? "É o que mais precisa da inclusão. Precisa conviver com as pessoas. Não somos nós que vamos dizer qual é o limite deles."


FONTE: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100328/not_imp530212,0.php