Sem doença que justifique a internação, ela permanece na instituição para quadros psiquiátricos agudos porque não há quem abrigue.
A menina 23225 --é assim que ela está registrada nos prontuários médicos-- foi internada aos 11 anos no Hospital Psiquiátrico Pinel. "Inteligente, agressiva, indisciplinada, sem respeito, fria e calculista", escreveram dela os que a levaram à instituição-símbolo da doença mental de São Paulo.
Psiquiatras, enfermeiros e psicólogos do Pinel logo viram que o caso de 23225 dispensava internação. Deram-lhe alta. Mas, como a garotinha não tem quem a queira por perto, já são mais de 1.500 dias, ou 4 anos e três meses esquecida dentro da instituição de tipo manicomial.
A menina não é psicótica ou esquizóide; não é do tipo que ouve vozes ou vê o que não existe. Uma médica do hospital resumiu assim o problema: "O mal dela é abandono".
Em termos técnicos, 23225 foi catalogada no Código Internacional de Doenças como sendo F91, que designa transtorno de conduta --desde agressividade até atitudes desafiantes e de oposição.
É triste vermos que a nossa sociedade continua excluindo pessoas ou crianças com transtornos mentais ou deficientes físicos, o caso publicado demonstra claramente uma necessidade de politica pública, pois o seio familiar da criança está deteriorado, a mãe presa e a avó sem condições de assumir a maternidade por problemas financeiros e o Estado sem estrutura adequada para abrigar em um lugar apropriado para o caso.